Por Marcel Assis Batista do Nascimento*

Na atualidade, o turismo enfrenta um novo paradigma: o de ser uma prática sustentável, socialmente equilibrada e resiliente. Historicamente, a expansão massiva do setor — evidenciada, no Brasil, pela larga preferência pelo segmento de sol e praia — resultou em desafios críticos à gestão territorial, social e ambiental.

No Pará e na Amazônia, a visão cartesiana que mede o sucesso do turismo apenas pelo aumento do fluxo de visitantes ignora que esse crescimento raramente se traduz em melhoria da qualidade de vida para a população receptora ou em valorização efetiva da cultura local. Esse quadro de vulnerabilidade é agravado, de forma drástica, pela intensificação dos efeitos da crise climática, o que demanda, com urgência, soluções inovadoras e aplicadas.

Os últimos anos têm sido marcados pela crescente incidência de fenômenos ambientais extremos no Pará, como enchentes e longos períodos de estiagem. Esses eventos estão associados a ações antrópicas — entre elas, o desmatamento, o garimpo ilegal e o avanço de monocultivos — que geram impactos socioeconômicos profundos e ameaçam a dinâmica local. Lamentavelmente, tais vulnerabilidades climáticas são, por vezes, negligenciadas por interesses políticos particulares, comprometendo as estratégias necessárias ao fortalecimento e à resiliência do turismo regional.

Diante dessa crise, torna-se imperativo ir além da mitigação de danos e buscar um desenvolvimento turístico resiliente: aquele que não apenas minimiza os impactos decorrentes das alterações climáticas, mas que, sobretudo, valoriza os recursos naturais e culturais conforme as especificidades locais da Amazônia. Nessa conjuntura, evidencia-se que a formação acadêmica, prática e profissional constitui o pilar essencial para lidar com as adversidades impostas pelos eventos climáticos extremos em setores vitais, como o turismo.

É nesse contexto que a abordagem aplicada e prática do PPGEDAM — Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia, vinculado ao NUMA/UFPA — se destaca. O programa se apresenta não apenas como um potencial, mas como uma inovação e uma alternativa promissora para a região, alinhada aos compromissos globais de enfrentamento às adversidades climáticas.

A relevância do PPGEDAM transcende a interdisciplinaridade: reside em sua capacidade de compreender, discutir e diagnosticar problemas reais e aplicados à complexa realidade amazônica. Essa formação, especialmente nas áreas que se entrecruzam com o turismo, contribui para o protagonismo da UFPA no debate e na busca por soluções concretas diante da crise climática.

A Organização Mundial do Turismo reconhece que o setor deve ser visto não apenas como um potencial vilão das mudanças climáticas, mas também como um instrumento de mitigação das adversidades extremas. Assim, ao incorporar em sua estrutura as intersecções entre gestão de recursos naturais, desenvolvimento local e desafios climáticos, o PPGEDAM/UFPA assume um papel de destaque na aplicação prática de soluções resilientes.

O programa, ao formar profissionais capazes de planejar e gerir atividades socioeconômicas com base na realidade local e nos riscos climáticos, posiciona-se como um agente transformador essencial para garantir que o desenvolvimento da Amazônia seja, de fato, resiliente e sustentável. É fundamental reconhecer que a resposta à crise climática amazônica não será encontrada em diretrizes descontextualizadas, mas sim no conhecimento aplicado, sensível e profundamente comprometido com a sustentabilidade local.

Dessa forma, o PPGEDAM/NUMA atua como um núcleo de excelência, capacitando profissionais que transformam a urgência e a vulnerabilidade do cenário atual em estratégias concretas. Ao integrar o rigor científico à realidade amazônica, a UFPA assegura que o desenvolvimento das atividades socioeconômicas seja resiliente, garantindo que a maior floresta tropical do mundo continue sendo uma fonte de vida — e não apenas um objeto do capital.

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Este artigo faz parte da chamada de artigos de opinião do NUMA para promover reflexões a respeito da 30ª Conferência das Partes (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), que ocorrerá em Belém, Pará, em novembro de 2025.

 

*Marcel Nascimento: Turismólogo (UFPA), especialista em planejamento e gestão em turismo (FACTUR/UFPA), doutorando em gestão de recursos naturais e desenvolvimento local na Amazônia (PPGEDAM/NUMA/UFPA); Analista ambiental - Turismólogo (SEMAS/PA). E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Imagem: Beatriz Aviz