Por Maynah do Nascimento Bezerra*

A menos de três semanas da COP 30, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) autorizou a perfuração de um poço em águas profundas na região da Foz do Amazonas. Mesmo tratando-se, por ora, de uma pesquisa exploratória, a permissão concedida pelo órgão talvez não tenha vindo em um bom timing.

O Brasil, no que se refere à sua matriz energética, ainda é reconhecido e respeitado internacionalmente como exemplo de geração baseada em recursos naturais renováveis — talvez não a mais eficiente ou a mais barata, mas ainda um modelo a ser seguido. A COP, sediada na Amazônia, deveria ser um momento de reafirmação do compromisso concreto com a preservação ambiental e com ações efetivas nesse sentido.

Apesar das críticas quanto à escolha da região amazônica — mais especificamente da capital paraense — como sede do evento, a realização da conferência em Belém vem a calhar para evidenciar “o que o inglês não quer ver”. Belém, como epicentro do coração amazônico, guarda uma diversidade ambiental, cultural e étnica que só pode ser compreendida ao se vivenciar minimamente a cidade. Quem já esteve lá sabe o quanto ela é capaz de revelar.

O PPGEDAM, com sua sólida base acadêmica voltada aos diversos aspectos da gestão dos recursos naturais e do desenvolvimento local na Amazônia, faz parte dessa força pulsante. A analogia é necessária, pois o programa abrange de forma holística múltiplos campos de atuação, refletindo sua multiculturalidade intrínseca, presente entre docentes e discentes. Para além da sala de aula, o programa está inserido em políticas públicas concretas, capazes de contribuir com decisões práticas voltadas à proteção dos recursos naturais e ao bem-estar das comunidades amazônicas — seja por meio da geração de dados para respostas imediatas, seja pela elaboração de teses que influenciem a governança estatal em suas diferentes esferas.

A COP 30 carrega a missão complexa de avaliar como as questões climáticas impactam os serviços ecossistêmicos e, principalmente, de transformar discursos e retóricas vazias em ações efetivas. Com pesquisas voltadas às mudanças climáticas, à gestão de recursos naturais, à biodiversidade, aos riscos ambientais e ao desenvolvimento territorial, entre outros temas, o PPGEDAM tem potencial para atuar como uma ponte entre a academia, as políticas públicas discutidas na conferência e as comunidades locais — durante e após o evento.

Quem sabe, e assim se espera, que este seja o início do fim de um anacronismo que ainda impede as nações de verdadeiramente enxergarem — e não apenas verem.

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Este artigo faz parte da chamada de artigos de opinião do NUMA para promover reflexões a respeito da 30ª Conferência das Partes (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), que ocorrerá em Belém, Pará, em novembro de 2025.

 

*Maynah do Nascimento Bezerra: Engenheiro Agrônomo. Especialista em Geoprocessamento e Georreferenciamento (PROMINAS). Discente do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM) – Universidade Federal do Pará. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. | Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Imagem: Google Earth